A
intertextualidade é inerente à produção humana visto que o texto é um objeto
cultural representado na sociedade por meio de filmes, músicas, anúncios,
poemas, romances, entre outros meios, Desta forma, podemos considerar a relação
entre os textos responsável pela reprodução e/ou formação do sentido no
processo de produção e recepção textual.
O
homem sempre se refere a algo que já foi dito ou feito no processo de produção
simbólica. Falar em autonomia de um texto é, a rigor, improcedente, uma vez que
sua existência se concretiza a partir do momento que alguém o lê, o que depende
do olhar de cada leitor que é livre para interpretar o texto, recriando
leituras e produzindo novos significados. É o leitor em conjunto com suas
formações sociais e ideológicas que realizará determinada interpretação.
Cada
texto constitui uma proposta de significação que não está inteiramente
construída. A significação se dá no jogo de olhares entre o texto e seu
destinatário. Este último é um interlocutor ativo no processo de significação,
na medida em que participa do jogo intertextual tanto quanto o autor. A
intertextualidade se dá, pois, tanto na produção como na recepção textual que
ocorre dentro do universo sociocultural que todos participam: filmes que
retomam filmes, obras de arte que dialogam com outras, propagandas que se
utilizam do discurso artístico, músicas escritas com versos de poemas alheios,
tudo isso são textos dialogando com outros textos.
Podemos
associar essas concepções ao estudo de Bakhtin sobre a inerente polifonia da
linguagem, na medida em que todo discurso é composto de outros discursos, toda
fala é habitada por vozes diversas. Na verdade, a intertextualidade, inerente à
linguagem, torna-se explícita em todas as produções literárias que se valem de
diferentes recursos intertextuais como, por exemplo, referências, alusões,
epígrafes, paráfrases, paródias ou pastiches.
Em
qualquer nível, a produção simbólica é, pois, sempre uma retomada de outras
produções, perfazendo um jogo infinito que enreda autores e leitores.
A
interdiscursividade não implica a intertextualidade, embora o contrário seja
verdadeiro, pois, ao se referir a um texto, o enunciador se refere, também, ao
discurso que ele manifesta. A intertextualidade não é um fenômeno necessário
para a constituição de um texto. A interdiscursividade, ao contrário, é
inerente à constituição do discurso, dado que um discurso discursa outros
discursos. Nessa medida, podemos dizer, então, que o discurso é social, além de
apresentar uma heterogeneidade constitutiva (MAINGUENEAU, 1987, p. 81-93, apud
BARROS; FIORIN, 2003, p.33)
Discutiremos
a intertextualidade presentes na música Monte Castelo e sua relação com a
interdiscursividade responsável pela produção do sentido no momento da produção
textual por parte do autor e suas possíveis releituras no processo de recepção
textual por parte de diferentes leitores inseridos em contextos culturais
diferenciados pelo tempo e pelo espaço, além de considerar os elementos
externos integrantes na constituição da música.
No
estudo relativo à Linguística Textual, aponta-se como uma das condições de
textualidade a referência (explícita ou implícita) a outros textos orais,
escritos, visuais, entre outros. Esse “diálogo” entre textos chamamos de
intertextualidade. E sua importância é tamanha a ponto de se afirmar que
“A
competência em leitura e em produção textual não depende apenas do conhecimento
do código linguístico. Para ler e escrever com proficiência é imprescindível
conhecer outros textos, estar consciente de suas relações intertextuais, pois
um texto nasce a partir de outros”. (Guia de Produção Textual)
Dessa
forma, nossa compreensão de um texto acontece de acordo com o conhecimento de
mundo e com o universo de leitura. Quanto mais ampla for a gama de conhecimento
geral do leitor maior será a sua competência para saber que o um texto dialoga
com outros por meio de referências, alusões ou citações.
Ser
sensível ao que outros autores escreveram para, a partir de então, iniciar a
sua própria escrita é a chave para o universo da intertextualidade. Pode-se,
portanto, fazer a seguinte declaração
“Quem
escreve não escreve no vazio, pois um texto não surge do nada. Pode-se dizer
que escrever é a habilidade de aproveitar criticamente, criativamente outros
materiais interdiscursivos, outros textos. É por isso que quem lê está em
situação privilegiada para escrever, uma vez que se apropria, mediante a
leitura, de ideias e de recursos de expressão”. (Guia de Produção Textual)
Na
música Monte Castelo a intertextualidade foi aplicada de forma muito rica.
Renato Russo apropria-se de dois famosos textos sobre o “amor” e constrói, a
partir deles, a sua mensagem para uma geração que, talvez, induzida pela
cultura rebelde dos anos 80, não estivesse muito a par de dois escritores tão
“distantes” desse novo mundo do século XX e sua mensagem de sexo, drogas e rock
roll.
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