Análise do poema Amor é um Fogo que Arde sem se Ver de Luís Vaz de Camões

AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER...

Luís Vaz de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?



O poema de Camões data do século XVI e compõe a vasta gama de produção do período do Classicismo. O poeta viveu experiências que formaram o “seu dramático mundo inconfundível” segundo Geraldo Mello Mourão. Dessa forma, sua expressão foi afinada por uma realidade trágica. O soneto foi produzido em uma época que ainda sofria resquício cultural da Idade Média, principalmente no tocante ao fato de que

“A literatura ainda era vista como um importante instrumento de formação moral dos homens nobres: tinha, portanto, caráter moralizante e aristocrático”. (Ulisses Infante)

               Ele tenta, em vão, conceituar o Amor; mas só consegue demonstrar que qualquer tentativa semelhante, ao final, levará ao ponto de partida. Em Camões, o amor sempre é propositadamente contraditório, pois o poeta quer mostrar que é desse paradoxo que se origina a sua grandeza para dominar, de forma delicada e imbatível, a vida do ser humano, ser tão complexo em seus sentimentos. O tratamento dado ao tema no soneto é visivelmente ligado ao sentimento humano entre um homem e uma mulher, o amor romântico, seja ele correspondido ou não. O amor Eros está sempre ligado à falta, ao sofrimento, uma vez que um amante nunca está saciado do outro. Assim, a mensagem enfatiza que, embora haja sofrimento no amor, ele sempre é, contraditoriamente, acompanhado pela amizade e toda sensação causada por ele, aprazível ou não, é nobre e enobrece o ser que ama.

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